Um crepusculo breve, que antecede
O formoso clarão da aurora eterna.
Quando vem pois sua hora derradeira,
Sauda sem pavor a muda campa,
E sobre o leito do eternal repouso
Tranquillo se reclina.
Oh! não turbeis os seus celestes sonhos;
Deixai correr nas sombras do mysterio
Seus tristes dias: — triste é seu destino,
Como o luzir de moribunda estrella
Em céo caliginoso.
Tal é seu fado; — o anjo d’harmonia
C’uma das mãos lhe entrega a lyra d’ouro,
N’outra lhe estende o calix da amargura.
Bem como o incenso, que só verte aromas,
Quando se queima, e ardendo se evapora,
Assim do vate a mente
Aquecida nas fragoas do infortunio,
Na dôr bebendo audacia e força nova
Mais pura ao céo se arrouba, e accentos vibra
De insolita harmonia.
Sim — não turbeis os seus celestes sonhos,
Deixai, deixai sua alma isenta alar-se
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