Mas — lá mesmo, na paz do seu retiro
Soffre talvez: — em sua nobre fronte
Os dias têm passado tormentosos,
Deixando n’ella em veneraveis surcos
Impresso o sello austero do infortunio;
E em seu peito talvez fermenta ainda
O fel de mil lembranças dolorosas!
Elle soffre, que é essa a sina eterna
De uma alma pura e grande: é assim que as nuvens
Procurão sempre o pincaro mais alto
E em torno conglobadas o corôão
De sinistro bulcão, prenhe de raios.
Ide, minhas canções, voai aos ermos,
Filhas da solidão, voltai a ella!
Bafejai do deserto o altivo tronco,
E como um bando de fagueiras brizas,
Em torno lhe agitai as leves azas,
Perfumadas de amor e de harmonia;
Ouça-vos elle nas serenas sombras
A soluçar com a fonte gemedora,
Que desfia entre o musgo dos penedos,
Brincar nas folhas c’os travessos zephyros,
E nas humidas lapas suspirando;
Ouça-vos a rugir com a tempestade
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