Tantas vezes, amigo, hei percorrido,
Vai hoje visitar-te a minha musa.
Vai ella só.... É pena que eu não possa
No aprazivel passeio acompanhal-a;
Eu de bom grado aos ermos a seguira.
Mas não sei que destino aqui me prende
Entre um montão de lugubres papeis,
Que como enxame de importunas vespas
Em torno me esvoação de continuo,
Folhas chamadas, — não as verdes folhas,
Que a fronte adornão das viçosas selvas,
E vertendo ao cansado viandante
Com brando rumorejo alma frescura
Dão vida ao coração, repouso á mente.
São folhas seccas, aridas, tristonhas,
Que por todos os cantos me farfalhão,
Como baratas chocalhando as azas
Entre as fendas de velho pardieiro.
Dizem no emtanto os homens entendidos
Que essas tristes folhas são as azas
Com que vôa o progresso pelo mundo...
Vivo portanto aqui immovel, quedo,
Como droga, embrulhado em papelada.
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