N’esses donosos paramos infindos?...
Do lar paterno nos umbraes sentado
Contemplas mudo os vastos horizontes,
As scenas grandiosas, os prodigios,
Que em torno a natureza te desdobra,
As estranhas usanças, os costumes
Semi-selvagens d’esse povo inculto,
Que vaguêa nas ribas nemorosas
Do Parnahyba undoso e turbulento,
E de tua alma nem um écho escapa,
Nem um só canto casas aos rumores
De teus palmares, ao murmurio eterno,
Com que te embalão selvas seculares?...
Eia, amigo, desprende a lyra tua
Do ramo em que ociosa balancêa
Das solidões ao vento reboando,
E canta-nos da terra, em que nasceste,
O puro céo de nuvens esmaltado,
Que em graciosos flocos se ennovelão
De cambiantes cores irisadas;
Os çrystallinos corregos saltando
Pelo vargedo entre floridas moutas,
Dos campos seus o eterno e vivo esmalte,
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