Do rebanho as novilhas mais formosas.
Bem o presente o ciumento velho,
Que em partilhar de modo algum consente
Com mais ninguem delicias de um serralho,
Que conquistou co’ a ponta de seus cornos.
Ardendo em zelos, de furor raivando,
Corre a punir o temerario amante,
Que ousa a seus olhos requestar-lhe as vaccas.
Quer este resistir; — mas inda novo,
Inda não traquejado nas pelejas,
Dos campos seus nataes afugentado,
Espancado e ferido, foi ao longe
Chorar no seio das profundas brenhas
Seu infortúnio e meditar vingança.
Longo tempo vagou pelas florestas
Errante, sem rebanho e sem amores,
Com bramidos de dôr e desespero
Das solidões amedrontando os échos.
Nos rijos troncos, nos cupins annosos
Exerce e aguça as formidaveis pontas,
E nos alheios campos penetrando
Os cornos cruza em luta encarniçada
Dos arredores com os mais fortes chefes;
A uns soterra, e para longe exila
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