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     A’ face dos desertos,
De caudal harmonia as fontes abres;
Como na lyra que pendente oscilla
     No ramo do arvoredo,
Roçadas pelas auras do deserto,
As cordas todas susurrando echôão,
Assim ao sopro teu, genio canoro,
De jubilo palpita a natureza,
     E as vozes mil desprende
De seus eternos, mysticos cantares:
E dos horrendos brados do oceano,
Do rouco ribombar das cachoeiras,
Do rugir das florestas seculares,
Do querulo murmurio dos ribeiros,
Do fremito amoroso da folhagem,
Do canto da ave, do gemer da fonte,
Dos sons, rumores, maviosas queixas,
Que povoão as sombras namoradas,
Um hymno teces magestoso, immenso,
Que na amplidão do espaço murmurando
Vai unir-se aos concertos ineffaveis
Que na limpida esphera vão guiando
O gyro infindo, e mysticas choréas
     Dos rutilantes orbes;