Como se fossem derretida cera,
Uma só vulto, uma côr iam tomando,
Quaes tinham sido nenhum delles era.
Tal o papel, se o fogo o vae queimando,
Antes de negro estar, e já depois
Que o branco perde, fusco vae ficando.
Os outros dous bradavam: « Ora pois,
Agnel, ai triste, que mudança é essa?
Olha que ja não és nem um nem dois! »
Faziam ambas uma só cabeça,
E na unica face um rosto mixto,
Onde eram dois, a apparecer começa.
Dos quatro braços dous restavam, e isto,
Pernas, coxas e o mais ia mudado
N’um tal composto que jamais foi visto.
Todo o primeiro aspecto era acabado;
Dous e nenhum era a cruel figura,
E tal se foi a passo demorado.
Qual cameleão, que variar procura
De sebe ás horas em que o sol esquenta,
E correndo parece que fulgura,
Tal uma curta serpe se apresenta,
Para o ventre dos dous corre accendida,
Lívida e côr de um bago de pimenta.
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