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olinda a alzira

O mesmo sitio, que invadira o dedo:
Forcejou para ferir-me com seus golpes,
Com impeto tamanho, com tal raiva
Que nem dos gritos meus se commovia.
Nem podia o meu pranto apiedal-o;
C'o forte impulso as movediças carnes
Levava-me ás entranhas; da ferida
Corria o sangue, mas sem que podesse
Ao ferro assolador achar bainha.
Seus dedos sanguinarios finalmente
D'uma e outra parte com vigor sustendo
Flexiveis membros, redobrando as forças
De valente impulsão, a cruel lança
Rompeu cruento ingresso... traspassou-me.
Que dôr, Alzira!... Dei tão alto grito
Que Bellino depois disse o assustára,
Bem que fosse de meus paes distante o quarto.
Sem sentidos fiquei, emquanto o amante
Os tropheus da víctoria recolhia;
E só tornei a mim, quando ao meu sangue
Suave irrigação veio mesclar-se,
A agitações de gosto a dôr cedendo,
De gosto inexhaurivel, que provára.
N'um momento apertada com Bellino,
N'activa sensação toquei com elle
A meta das delicias, transportada
De muito mais prazer que a dôr fora.
N'este instante convulsa e delirante,
E como se um espasmo supportasse,
Inteiriçada toda, os meus alentos