Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/16

12
RIBEIRADA
XII

Do tremendo phantasma a testa dura
Dous retorcidos cornos enfeitavam;
E, debaixo da pansa, a matta escura
Três disformes caralhos occupavam:
O sujo aspecto, a feia catadura,
Os rasgados olhões illuminavam;
E na terrivel dextra o torpe espectro
Empunhava uma porra em vez de sceptro,

XIII

Ergue a voz, que as paredes abalava,
E co'a força do alento sibilante
Mata a pallida luz, que a um canto estava,
Em plumbeo castiçal agonisante:
«Oh tu, rei dos caralhos (exclamava)
Perde o medo, que mostras no semblante:
Que quem hoje te agarra no marsapo
É de Vénus o filho, o deus Priapo.

XIV

«Vendo a fome cruel do parrameiro,
Que essas negras entranhas te devora,
De putas um covil deixei ligeiro,
Por fartar-te de fodas sem demora:
Consolarás o rígido madeiro
N'uma femea gentil, que perto mora,
Mas não lh'o mettas todo, pois receio
Que a possas escachar de meio a meio.»