Milagre do Parnaso em fama e nome,
Em corpo gallicado alma franceza,
Com voz medonha, lingua portugueza,
Que aos bocados a honra e brio come:
Toda a moça, que d′elle se confia,
É virgem no serralho do seu peito;
Janella, que se fecha, putaria!
N′este esboço o retrato tenho feito;
Eis o grande e fatal Manoel Maria,
Que até pintado perde o bom conceito.
(Anonymo.)
Ha junto do Parnaso um turvo lago,
Aonde em rans existem transformados
Os trovistas de cascos esquentados.
Cerebro frouxo, ou de miolo vago;
Por mais infamia sua, e mais estrago
Doou-lhes Phebo os animos damnados,
P′ra que exprimam os versos desazados
Os seus destinos vis, nos quaes eu cago:
Aqui Bocage vive, e d′aqui ralha,
E co′a tartarea lingua ponti-aguda
Bons e maus, maus e bons, tudo atassalha