Padre Frei Cosme, vossa reverencia
Se engana, ou enganar-nos talvez tenta:
Quem as riquezas dá, quem nos sustenta,
Não é de Deus a summa providencia?
Pois logo com que cara ou consciencia
Esmola pede, e arrepanhar intenta
Para o Senhor da Paz, ou da Tormenta?
Tem Deus do homem acaso dependencia?
Tire a mascara pois, largue a sacola,
E deixe o povo, a quem impunemente
Em nome do Senhor escorcha, e esfola:
Á viuva deixe a esmola, e ao indigente;
E não queira, hypocrita farçola
Foder á custa da devota gente.
Lingua mordaz, infame, e maldizente,
Não ouses murmurar do bom prelado:
Inda que o vejas com Alcippe ao lado.
Amiga não será, será parente:
Geral da Ordem, prégador potente,
No jogo padre-mestre jubilado,
E tambem caloteiro descarado
Pode ser que o repute alguma gente: