notas
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Que é santa, e que morreu, com juramentos
Affirma audaz o façanhudo frade,
E que prodigios são seus movimentos:
O devoto auditorio se persuade:
Renovam-se os protestos, e os lamentos:
Triste religião! Pobre cidade!
II
Acredite, sentado aos quentes lares
Nas noutes invernosas de janeiro,
Lendo em Carlos Magno o sapateiro
As proezas cruéis dos doze Pares:
Crêam que vem as bruxas pelos ares
A chupar as creanças no trazeiro;
Comam quanto lhes diz o gazeteiro.
De casos, de successos singulares:
Porém, que uma beata amortalhada,
Com a cara vermelha e corpo molle,
E sancta por um frade apregoada;
Que respire, que os braços desenrole,
E seja por defuncta acreditada,
Isto somente em Evora se engole!