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Posto que incestuosa chamma queime,
Devore o falso coração de Phedra,
Mostrae por ella que sentís ternura:
Acompanhe seu pranto o pranto vosso.
Tão felices agouros vendo Tyrse,
De vosso peito cego amor espera.


XIII

   Longo tempo Tritão ardeu nos mares
Por Thysbe, de Nereo cerulea filha;
Dos seus amores rindo a esquiva nympha
Melhor ouvia o murmurar das ondas:
Bem como de voraz golfinho foge
Turba medrosa de miudos peixes,
Do mancebo Tritão cruel fugia
Assim nos reinos de Neptuno Thysbe.
Eis que um dia Protheo, pastor que guarda
Das aguas o maritimo rebanho,
Cuja molhada fronte cingem molles
E verdenegros juncos, que o mar cria;
Em tremulo penhasco, e ondeando enfeitam
A leve coma palludosos ramos,
Atraz do gado nadador cantava:
«Ah! misero Tritão, se queres Thysbe,
«Em leve pó mudada Troya vinga.»
Os eternos oraculos não mentem,
Deixou de ser esquiva a loura Thysbe.
Quando Circe nas praias se queixava
Do fugitivo, do perjuro Ulysses;