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a alzira
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O sangue, pelas veias abrazado
Parece que me queima as carnes todas:
A taes agitações languidez terna
Succede, que a meus olhos pranto arranca,
E o coração desassombrar parece
Do pezo da voraz melancholia.
Té mesmo a natureza tem mudado
A configuração, que eu d′antes tinha:
Vão-se augmentando os peitos, e tomando
Uma redonda fórma, como aquelles
Que servem de nutrir-nos lá na infancia.
D ′outros signaes o corpo se matiza
Antes desconhecidos: alvos membros,
Lisos té′qui, macúla um brando pello,
Como o buço ao mancebo, á ave a penugem.
Sobresalta-me d′homens a presença,
Elles, a quem té agora indifferente
Tenho com affouteza sempre olhado!
Ao vêl-os o rubor me sobe ao rosto,
A voz me treme, e articular não posso
Sons, que emperrada a lingua não exprime.
Sinto desejos, que expressar me custa;
Amor... E como a idéa tal me arrojo?
Será talvez amor isto que eu sinto?
Já tenho lido effeitos de seus damnos;
Mas esses, que o seu jugo supportaram,,
Tinham com quem seu pezo repartissem,
Tinham a quem chamavam doce objecto.
Quem a seu mal remedio suggerisse,
Isto era amor; mas eu amor não sinto:

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