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alzira a olinda
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EPISTOLA IV


ALZIRA A OLINDA


Com que satisfação, com que alegria
Vejo da minha Olinda as ternas letras!
Retrato da innocencia, me affiguras
O que por mim passou, extranho effeito
De um coração sensivel, não manchado
Ainda pela mão da iniquidade.
Falla, não temas exprimir-te, Olinda,
Que se culpavel fores de outrem aos olhos,
Aos meus és innocente, e assim te julgo.

Da inviolavel lei da Natureza
A que sujeita estás, bem como tudo,
Nascem, querida amiga, os teus transportes:
Só provém d′ella, é ella que t′os causa;
Ella os mitigará em tempo breve,
Dando-te próvida um remedio activo.
A triste educação, que ambas tivemos,
Mais desenvolve os ternos sentimentos
Dos que amar só procuram, e não podem
Na solidão senão atormentar-se.
Do recato das filhas temerosos
Pensam os rudes paes, que em sopeal-as
Alcançam extinguir o voraz fogo
Que sopra a Natureza, e que ella atêa.
Nescios, de amor lhe formam attentados,
Que o coração desmente, e que não póde
Saber justificar a razão mesma.

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