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olinda a alzira

Á vida termo pôr, que saciar-se.

Cedeu ás minhas supplicas, e agora
Grato me diz — que se elle da ventura
O caminho me abriu, eu n′elle o guio:
Assim, quando os sentidos fatigados
De amor se negam esgotar delicias,
Maná do coração inexhaurivel
Prolifica virtude, que os alenta.
Assim de gostos perennaes correntes
Franqueia amor a quem o não profana:
De Amor os gosos são como o diamante;
Que, sem o engaste que locar-lhe véda
Perdera a polidez, perdera o brilho.
Ame o lascivo o mau, o torpe o obsceno;
Eu em tuas expressões aprendo, Alzira,
Como a ternura impera nos sentidos:
E d′um, e d′outro regulando as forças.
De amorosos tropheos requinta a gloria.

O sensual atola-se nos vicios,
Cujo infesto vapor todo o corria
De lançar-lhe no tumulo o esqueleto;
D′outra arte aquelle, que libar suavisa
Nectar; que Amor esparge aos seus validos,
Das rugas e das cans não teme o estrago;
Que nos ultimos annos pode ainda
Em seu transporte Amor beijar na face.

Mas que exiges de mim? Pensas, Alzira
Que a rude Olinda como tu descreva
A emanação dos gostos, que se provam
Quando o primeiro amor os desenvolve