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ro, que foy a primeira idéa de Cidade, talhada para fundamento de hum Reino.

O Conde D. Henrique, quando entrou no ſenhorio de Portugal, fez ceſſar eſtas primeiras Armas, e uſou de hum Eſcudo branco, fem diviſa, ou peça alguma. Porém depois meteo nelle huma Cruz potente de azul; feliz preſſagio, de que haviao honrar as Chagas o Brazao, em que ſe arvorava a Cruz, e que com eſte humilde final, tremolando nos noſſos Labaros, haviamos fazer tremer as Regiões do mundo, e abas ter o levantado collo da ſoberba mais barbara.

D. Affonſo Henriques, em quanto a Providencia o naõ exaltava à Dignidade, para que o predefinira, trouxe as meſmas Armas de ſeu pay. Mas, no Campo de Ourique, è naquella grande noite, veſpera luminoſa do mayor dia de Portugal, quando eſte bravo Principe havia combater com o formidável Iſmael, e mais Reys ſeus alliados, Jeſu Chriſto lhe appareceo, como omnipotente Auxilio da guerra, Deos das batalhas, Senhor dos Exercitos, e Fundador do ſeu Imperio de Portugal.

Eſte favor eſpecialiſſimo do Ceo eſtá taõ acreditado com tradições, confirmado com eſcritos authenticos, recebido dos Authores eſtranhos deſapaixonados, e authoriſado com o juramento do meſmo Rey, que deve ter o mayor credito, que ſe dá à fé humana; que ſe alguma critica ſevera o pertender duvidar, naõ ſó lhe chamaremos atrevida, mas infolentemente confiada. No Ganhou D. Affonſo a memoravel victoria do Campo de Ourique, aonde foy acclamado Rey