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Duas palavras sobre Luiz Gama...



Julgam-me os editores d’este livro capaz de synthese tão concentrada que, com dois escassos vocabulos, numa cunhagem rapida, dê a medalha de Luiz Gama, apresentando no verso o poeta e no anverso o abolicionista.

E’ difficil — o mais perito gravador não se atreveria a tal empreza e não serei eu quem a realise.

A vida do propagandista intemarato é das que exigem paginas largas e o poeta é dos raros que, neste risonho paiz, onde só o homem é triste, riem francamente.

O seu verso, se não prima pela belleza da fórma, se não scintilla em lavores d’Arte, se a rima, por vezes, é pauperrima, é leve como a flecha, silva, vai direito ao alvo, crava-se e fica vibrando.

Satyrico, como Gregorio de Mattos, dando golpes no ridiculo, como Tolentino, Luiz Gama trouxe da Poesia a audacia que empregou na sagrada campanha — as cordas da sua lyra foram tomadas a um latego.

Que mais hei de eu dizer do heroe se uma pagina, e acanhada, apenas me concedem? Nem a pequenina medalha consegui fazer gravando a imagem energica do que pede um monumento. O Tempo fará justiça.


Campinas, Março, 1904.