No fundo se conserva a — Esperança;
E n’isto resmungando o cidadão
Lá vai ter ao calvario da prisão:
Não te espantes, ó Leitor, da pepineira,
Pois que tudo no Brasil è chuchadeira!
Se temos magestosas Faculdades,
Onde imperam egregias potestades,
E, apezar das luzes dos mentores,
Os burregos tambem sahem Doctores;
Se varões de preclara intelligencia
Animam a nefanda decadencia,
E a Patria sepultando em vil desdouro
Perjuram como judas — só por ouro:
E’ que o sabio, no Brasil, só quer lambança
Onde possa empantufar a larga pança!
Se a Lei fundamental — Constipação,
Faz papel de fallaz camaleão,
E surgindo no tempo de eleições,
Aos patetas illude, aos tolerões;
Se luzidos Ministros, d’alta escolha,
Com geito, tambem mascam grossa rolha;
E clamando que — sam independentes — ,
Em segredo recebem bons presentes:
E’ que o sabio, no Brasil, só quer lambança,
Onde possa empantufar a larga pança!
Se a justiça, por ter olhos vendados,
E’ vendida, por certos Magistrados,
Que o pudor afferrando na gaveta,
Sustentam — que o Direito é pura pêta;
E si os altos poderes sociaes,
Toleram estas scenas immoraes;
Se não mente o rifão já mui sabido:
— Ladrão que muito furta é protegido —
E’ que o sabio, no Brasil, só quer lambança
Onde possa empantufar a larga pança!
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