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QUINCAS BORBA

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QUINCAS BORBA

— Que desconfiada que você é, Sophia! Juro por tudo o que ha mais sagrado, pela luz que me allumia, por Deus Nosso Senhor. Estás satisfeita? Sophia ia cobrindo o joelho. — Deixa ver outra vez. Creio que não será nada de maior; bota um pouco de qualquer cousa. Manda perguntar á botica. — Está bom, deixa-me ir despir, disse ella forcejando por descer o vestido. Mas o Palha baixara os olhos do joelho até ao resto da perna, onde pegava com o cano da bota. De feito, era um bello trecho da natureza. A meia de seda dava idéia clara da perfeição do contorno. Palha, por graça, ia perguntando á mulher se se machucara aqui, e mais aqui, e mais aqui, indicando os logares com a mão que ia descendo. Se apparecesse um pedacinho desta obra-prima, o céo e as arvores ficariam assombrados, concluiu elle em quanto a mulher descia o vestido e tirava o pé do banco. — Pôde ser, mas não havia só o céo e as arvores, disse ella; havia também os olhos do Bubião. — Ora, o Bubião! É verdade; elle nunca mais teve aquellas idéias de Santa Thereza? — Nunca; mas, emfim, não me agradaria... Jura de verdade, Christiano?