alimentar uma paixão que há de ser uma esperança, e uma esperança que não pode ser outra coisa mais que um infortúnio. Que lhe posso eu dar que corresponda ao seu amor? O meu espírito, se quiser, a minha dedicação, a minha ternura, só isso... porque o amor... Eu amar? Pôr a existência toda nas mãos de uma criatura estranha... e mais do que a existência, o destino, sei eu o que isso é?
Neste ponto, parece que alguma idéia vaga e remota lhe surgiu no espírito e o levou a uma longa excursão no campo da memória. Quando voltou à realidade presente tinha o carro entrado no Largo do Machado. Apeou-se e seguiu a pé para casa.
A viúva tornou a ocupar-lhe o espírito. Recapitulou então tudo o que se passara em Catumbi, as palavras trocadas, os olhares ternos, a confissão mútua; evocou a imagem da moça e viu-a junto dele, pendente de seus lábios, palpitante de sentimento e ternura. Então a fantasia começou a debuxar-lhe uma existência futura, não romanesca nem legal, mas real e prosaica; como ele supunha que não podia deixar de ser com um homem inábil para as afeições do Céu.
— E que outra coisa quer ela? dizia o médico