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MACHADO DE ASSIS

CARTAS INÉDITAS

4 de Fevereiro de 1905.

Meu caro José Verissimo.

Hontem depois que nos separámos recebi o livro e a carta que V. me deixou no Garnier. Quando abri o pacote, vi o livro e li a carta, recebi naturalmente a impressão que me dão letras suas, — maior desta vez pelo assumpto. Obrigado, meu amigo, pelas palavras de carinho e conforto que me mandou e pelo sentimento de piedade que o levou á devolução do livro. Foi certamente o ultimo volume que a minha companheira folheou e leu a trechos, esperando fazel-o mais tarde, como aos outros que ella me viu escrever. Cá vae o volume para o pequeno movel onde guardo uma parte das lembranças della. Esta outra lembrança traz a nota particular de amigo.

Apezar da exhortação que me faz e da fé que ainda põe na possibilidade de algum trabalho, não sei se este seu triste amigo poderá metter hombros a um livro, que seria effectivamente o ultimo. Pelo que é viver comigo, ella vive e viverá, mas a força que me dá isto é empregada na resistencia á dôr que ella me deixou. Emfim, póde ser que a necessidade do trabalho me traga esse effeito que V. tão carinhosamente afiança. Eu quizera que assim fosse.

Quanto á minha visão das cousas, meu amigo, estou ainda muito perto de uma grande injustiça para descrêr