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REVISTA DO BRASIL
IV

A calma que até ahi do peito me fugia
Voltou de novo ao peito e á coragem primeira.
Não mais vacillações, não mais mente erradia.
Ao estranho rumôr fallo desta maneira :

"Como nesta occasião o somno me prendia
E a pancada foi tal, tão leve e tão ligeira,
Que presto não corri; perdoai-me esta ousadia,
Duma ou senhor que estaes da minha porta á hombreira."

Tão receiosamente e vagarosamente
Batestes, que não fui receber-vos contente,
Como hospede que sois e á minha porta estaes.

E assim fallando e olhando, escancarei a porta,
Mas só encontrei naquella hora adiantada e morta,
Treva! Treva sómente! A trevo e nada mais!


V

Cravo os olhos na treva e longamente a escruto,
E a treva é muda e é muda a propria ventania,
E longo tempo assim com o proprio medo lucto,
De duvida e terrôr povoando a phantazia.

Sonhos que outro mortal, como eu, nunca ousaria
Sonhar, me vêm, num bando esmagador e bruto.
Profunda calma aquieta a quieta calmaria.
Immovel é o silencio e só o silencio escuto!...

A unica voz humana, o unico som ouvido,
E' este nome, em surdina e, a medo, proferido;
E' este nome que encerra os meus mortos ideaes.

Sou eu quem o profere, eu que o trago na mente.
E um éco a repercutir, repete-o vagamente:
"Eleonora! Eleonora!" E' isto, e nada mais!