Página:Revista do Brasil, 1921, anno VI, v XVI, n 61.pdf/90

48
REVISTA DO BRASIL

Nas arvores, só um ou outro tico-tico; no chão, só formiguinhas ruivasA menina, para matar o tempo, principiou a observar o

corre-corre das formigas e logo esqueceu a zanga com a boneca.

— Já reparou, Emilia, como as formigas conversam? Que pena não entender a gente o que ellas dizem...

— "A gente" é modo de dizer, replicou Emilia, porque eu bem que entendo o que ellas dizem.

— Verdade?

— Verdade sim, entendo muito bem, e si ficares aqui commigo conto-te toda a historinha que ellas conversam. Repare. Vem uma de lá e outra de cá. Logo que se encontrem pegam de prosa.

Dito e feito. As formigas encontraram-se e principiaram a tagarelar; depois, cada uma seguiu o seu caminho.

— Fiquei na mesma, disse a menina.

— Pois eu não, retrucou a boneca. A de lá disse: "Encontrou o corpo do besourinho verde?" A de cá respondeu: "Não". A de lá: "Pois volte e procure perto do pé de pitanga, naquella pedra onde mora uma paquinha. Esse besouro morreu hontem lá que eu vi" A de cá: "Pois está direito, vou ver isso". E foi.

Esta formiga que dá ordens deve ser a dona de casa do formigueiro. Tem uns ares de mandona e não sae daqui de perto, a entrar e a sair do buraquinho, como quem toma conta do serviço. A outra é carregadeira.

Devia ser isso mesmo porque logo depois chegou de fóra uma terceira formiguinha, muito apressada, que cochichou com ella e voltou para trás.

— Que é que disse esta? perguntou Narizinho.