PELO
DR. CARLOS FREDERICO PHILIPPE VON MARTIUS
(Traduzido pelo dr. Alberto Lüfegren e revisto pelo dr. A. C. de Miranda Azevedo)
No meio das creações da civilização e dos costumes europeus que no Novo Mundo triumphalmente se espalharam do littoral para o interior do continente, o indigena desta terra continua qual enigma obscuro, que ninguém ainda comprehendeu. Si feições singulares do corpo os differenciam de todos os outros povos da terra, mais ainda se diversificam pela natureza do seu espirito e do seu caracter. Permanecendo em grau inferior da humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização, não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo. Assim parecendo estar ainda na minoridade, a sua incapacidade para o progresso assimilha-o a um velho estacionário; reúne, pois, em si os polos oppostos da vida intellectual . Este estranho e inexplicável estado do indigena americano até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para concilial-o inteiramente com a Europa vencedora e tornal-o um cidadão satisfeito e feliz. E é exactamente nesta sua natureza dupla que a sciencia encontra a maior difficuldade para esclarecer a sua origem e determinar as épocas da historia antiga a que elle, ha milliennioiá, pertence sem, comtudo, ter progredido.
Quem, de perto e sem prevenção, observar o homem americano, deve concordar que o seu estado actual está muito longe de ser o natural, alegre e infantil, que uma voz interior nos diz deve ter sido o começo da historia humana e que o documento mais antigo nos confirma como tal. Si o estado actual daquelles selvagens fosse o primitivo, daria-nos elle uma ideia, attrahente, ainda que um pouco humilhante, da marcha evolutiva da humanidade ; teríamos que reconhecer que a raça de homens vermelhos não partilhara do beneficio da origem divina, mas que unicamente instinctos bestiaes os conduziram até a actualidade contristadora, através de um passado obscuro e em marcha im-