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VII
PREFAÇÃO.

Parece-me digna de offertar ao verdadeiro Amigo huma Obra, em que se desempenha o principal dever do Homem: a Gratidão; huma Obra, que inspira o amor á Virtude, elogiando as almas bemfeitoras, e a applicação ás Lettras, honrando os Sabios.

A Poesia só he inutil, quando se occupa em objectos frivolos, perpetrando paixões infames, e mascarando, por assim dizer, os caprichos do homem licencioso, com as imagens de huma perigosa Eloquência : precisa porém, e apreciavel, quando tende ao seu legitimo fim , e com as vivas cores de huma imaginação fecunda se contém no espaço que lhe dimensa a solida Moral.

O Amor, de que fallo pelo corpo deste Volume, não he essa paixão criminal, que a maior parte dos Compositores tomão para assumpto das suas Obras, mas sim aquelle affecto puro, e ingenuo, que parece ter emanado do seio do Creador para fazer as delicias da Sociedade; este affecto, que sabe bem-aventurar dois corações sem os corromper, unir duas almas sem as desviar da estrada suavissima da Virtude.