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um bello mocetão, vigoroso, sadio e morigerado, a ponto de servir de exemplo a muitos ?

A nevrose das cidades, que faz da mulher actual a eterna desequilibrada, a infeliz nostalgica, preadivinhada pelo compassivo Michelet, estenderia o scu morbido contagio até á humilde aldeia de Sines, perdida nos confins da Extremadura ?

Severina era, como já disse, uma doente, degenerado produeto de um remoto atavismo, onde a paciente investigação retrospectiva de Zola descobriria por ventura o documento humano, susceptivel de elucidar-nos csse ponto obscuro.

A mesma caprichosa natureza que lhe afidalgára as fórmas, inoculára n'essa alma singela c ignorante, alheia aos refinamentos da civilisação e privada da fecunda cultura intellectual, um germen de revolta.

Inconscientemente, Severina sentia pezar sobre toda a sua vida uma lei illogica, que a desviava de um futuro, vagamente ambicionado.

Adorava os sobrinhos, que creára como se fossem seus filhos, estimava o pac, gostava do Silvestre, comprehendia o inaprcciavel valor da affeição dedicada, silenciosa e inalteravel que lhe votava esse excellente rapaz; a sua innata bondade revelava-lhe, intuitivamente, todos os thezouros de boa e paciente ternura que existiam, latentes, no coração do Silvestre ; sabia que a vida d'elle se absorvia toda n'esse amor e que lh'a saerificaria, se fosse preciso; estremecia-o, queria-lhe como a um irmão, admirava a força de respeito que o pobre rapaz impunha, heroicamente, á intensidade do amor; entretanto, nenhum d'esscs affectos lograva preencher o insondavel vacuo da sua alma, inquieta e perturbada.