89

V

N'esse domingo de dezembro, o Silvestre, vestido de ponto em branco, viera procurar o Manuel Cherne.

A Severina tinha ido á missa; as crianças corriam atraz dos patos e gallinhas, flanadores habituaes das estrcitas ruas de Sines; o velho pescador, assentado no banco fronteiro á casa, aquecia-se ao sol.

— Olá, mcu rapazola, bradou o Manucl, cachimbando, como tu vens catita !

Timidamente, o Silvestre approximou-se; tirára o chapéo e com um lenço encarnado limpava a testa, inundada de suor.

— Homem, notou o Manuel, piscando os olhos, pois tu suas com este frio de levar coiro e cabello?

Fez-se um silencio. O Silvestre assentára-sc no banco, sem proferir palavra. O velho pescador continuava a fital-o, rindo-se maliciosamente.

O sol nimbava-os, avivando-lhes a côr argilosa e imprimindo-lhes o firme desenho rectilineo de um grupo de terra côta.

E no amplo espaço, vaporisado por uma tenue neblina que azulejava os longes, adelgaçando-os em uma fluidez aquatica, o mar rugia lamentosamente, executando o seu requiem gemebundo.

Não queres esperar pela Severina? perguntou o velho ao Silvestre, que se levantára na mesma attitude taciturna e contrafeita, enrolando as abas do chapéo e cravando os olhos no chão.

Aquelle nome, que resoára até ao mais intimo do seu ser, respondendo a todos os sentimentos que o preoccupavam, foi a chave mys-