— Então um pobre não pode sem bajulação ter relação com pessoas ricas? Que doutrina!
— Sem dúvida que pode, quando se estabelece uma certa igualdade social por virtude de alguma causa, como, por exemplo, a amizade, o parentesco, uma posição elevada, a consideração pública, etc. Um escritor notável, embora nada tenha de seu, pode aceitar a hospitalidade do milionário, porque trata de igual a igual: se este é rei na praça, ele é rei na imprensa. Sua presença, assim como a de todas as outras pessoas distintas, é honra que os ricos solicitam.
— Nesse caso, tu que tens talento e escreves bem, devias aceitar o convite; era uma honra que fazias ao Soares.
— Obrigado pela ironia.
— Onde está a ironia?
— Somos dois pobretões obscuros; eu podia acrescentar de minha parte, e desconhecido, porque realmente o sou nesta grande cidade. Em casa de um milionário, no meio de uma sociedade habituada ao luxo e às grandezas, qual seria nossa posição? Creio