Ora, cada degrau que eu subisse da escada do Soares, era um passo que descia do meu nível. Isolado no meio de tantos convidados, desconhecido naquela sociedade habitual, perguntariam: “Que veio aqui fazer este sujeito? — Prestou um pequeno serviço à filha do comendador, responderia algum íntimo; se fosse um criado, dava-se uma gorjeta; mas como é um pobre bacharel, convidaram-no a jantar.”

— Tu não conheces a sociedade do Rio de Janeiro; nunca a frequentaste. Julgas por São Paulo, ou por informações falsas.

— Conheço-a melhor do que tu, pela razão do provérbio “que no olho dos outros vê-se o argueiro, e não se enxerga no nosso o cavaleiro”. Bem sei que esses intrusos de que falo muitas vezes, não só obtêm a tolerância, como se tornam necessários; tocam quadrilhas, fazem dançar as feias, ou exaltam as virtudes dos donos da casa. São os criados de galão amarelo dos ricaços e banqueiros, ou um móvel de palácio, necessário à comodidade e ao bem-estar, como um sofá de estofo, um tapete aveludado,