em nossa alma um cantinho, que, apesar dos anos, da experiência e dos trabalhos, fica menino até que enfim o homem volta à primeira infância. Nesse cantinho dormem as ilusões ingênuas, as esperanças infindas, a fé robusta e sobretudo certos laivos de loucura que tonificam a razão.
É aí, é justamente nesse santuário da infância, que a alma viril do homem costuma-se refugiar nos momentos de crise, quando sustenta alguma luta com a fortuna; ou vencedora para fortalecer-se com a seiva primitiva, e renovar o combate; ou vencida para escapar ao desespero, que a invade.
Ricardo deixou-se ir à mercê da fantasia, que recortava arabescos em seu espírito. Era um desses sonhos acordados, em que as noções confusas se agitam num claro-escuro do espírito. Esse jogo da luz e das sombras d'alma, junto à extrema volubilidade dos pensamentos, não deixava destacar-se cada uma das ideias. Bilhete de loteria, jogo de cartas, heranças inesperadas, a proteção de um milionário, o trabalho