molde, para depois vazá-los dentro d'alma. Olhar de poeta ou de artista, que esculpe na memória as estátuas, os relevos e arabescos da natureza; donde os copia depois a imaginação em poemas, em harmonias, em raios de luz. Esse olhar tem alguma cousa do cinzel que talha, e da lava ardente que se coalha e vitrifica sobre os objetos.
Guida, que trazia nos lábios o sorriso gracioso, perturbou-se, e desviou a vista corando. Pareceu-lhe descobrir naquela expressão estranha do olhar de Ricardo uma exprobração pela cena do domingo anterior.
Conhecendo que tinha vexado a moça, Ricardo arrependeu-se do seu movimento de curiosidade artística. Da última vez que estivera na Tijuca desenhara de memória a cena do seu primeiro encontro com Guida; julgou porém impossível dar à figura da moça os traços da fisionomia encantadora, que ele apenas vira tão de relance. Oferecendo-se essa ocasião de ver Guida de mais perto e demoradamente, quis decorar-lhe as feições.