reclinado ao braço da poltrona, começou a falar baixinho ao ouvido da velha com extrema vivacidade. Dir-se-ia que receava encontrar-se com suas próprias palavras, pois as despedia mui depressa, e às escondidas.
Algumas vezes parava para observar a fisionomia de D. Leonarda, onde através do embevecimento que lhe causava a voz querida, espontava uma leve surpresa.
— Como há de ser? perguntou a velha uma vez.
— Escute, respondeu Guida.
E tomando entre as mãos a cabeça da velha com um gesto gracioso, conchegou-a a seus lábios, no intento de tornar ainda mais íntima e reservada essa confidência, que, se não roseava-lhe a face nívea e imaculada, alvoroçava-lhe os espíritos, a arder nos olhos e a arfar no seio.
— Pois sim! disse a velha dando-lhe um beijo. Arranja tudo.
Guida chamou um pajem:
— Vá à casa do Sr. Benício, sabe?
— É o procurador de sinhá velha?