Eu suspirava ainda;
A gôndola do cais se ia afastando,
E do grande canal sulcando as águas,
Quando vozes ouvi: era o barqueiro,
Que ao compasso do remo recitava,
Com monótona voz, porém saudosa,
Do vate de Sorrento os doces carmes.
Tudo então repousava;
Veneza ao longe iluminada eu via,
Como um céu estrelado.
O esquife brandamente deslizava,
As sonolentas águas despertando,
Qual negro mergulhão de argênteo rostro,
Ou qual cisne de luto revestido.
Por que tão curta foi noite tão bela?
Ah! quem nunca deixou pátrias devesas,
Quem de um amigo não chorou a ausência,
Nem de uma amante a perda,
Gozar não pode em solitária noite
Esta doce impressão, que alma sufoca.
Tomei terra em Fusina;
Arqua deixei, onde habitou Petrarca;