se a conversar com calor. A mulata não gostara do Rio; preferia o Recife. Lá sim! O céu era outro; as comidas tinham outro sabor, melhor e mais quente. Quem não se recordaria sempre de uma frigideira de camarões com maturins ou de um bom feijão com leite de coco?
Depois, mesmo a cidade era mais bonita; as pontes, os rios, o teatro, as igrejas.
E os bairros então? A Madalena, Olinda... No Rio, ela concordava, havia mais povo, mais dinheiro; mas Recife era outra cousa, era tudo...
— Você tem razão, disse o comendador; Recife é bonito, e muito mais . .
— O senhor, já esteve lá?
— Seis anos; filha, seis anos; e levantou a mão esquerda à altura dos olhos, correu-a pela testa, contornou com ela a cabeça, descansou-a afinal na perna e acrescentou: comecei lá minha carreira comercial e tenho muitas saudades. Onde você morava?
— Ultimamente à Rua da Penha, mas nasci na de João de Barro, perto do Hospital de Santa Águeda...
— Morei lá também, disse ele distraído.
— Criei-me pelas bandas de Olinda, continuou Alice, e por morte de minha mãe vim para a casa do doutor Hildebrando, colocada pelo juiz...
Há muito que tua mãe morreu? indagou o coronel.
— Há oito anos quase, respondeu ela.
— Há muito tempo, refletiu o coronel; e logo perguntou: que idade tens?
— Vinte e seis anos, fez ela. Fiquei órfã aos dezoito. Durante esses oito anos tenho rolado por esse mundo de Cristo e comido o pão que o diabo amassou. Passando de mão em mão, ora nesta, ora naquela, a minha vida tem sido um tormento. Até hoje só tenho conhecido três homens que me dessem alguma coisa; os outros Deus me livre deles! - só querem