e financeira, a sua honestidade, a sua lealdade e, sobretudo, rematou Florentino: a sua moralidade.
— Na Inglaterra, afirmou este último, os rapazes se casam tão puros como as raparigas.
Irene enrubesceu ligeiramente e Dona Sofia levantou-se estrepitosamente, arrastando a cadeira em que estava sentada.
Florentino, hóspede quase sempre mudo, era um velho juiz de direito aposentado, espiritista convencido, que vagava no mundo o olhar perdido de quem perscruta o invisível.
Não percebeu que a sua afirmação havia escandalizado as senhoras e continuou serenamente:
— Lá não há esse nosso desregramento, essa falta de respeito, essa impudicícia de costumes... Há moral... O senhor quer ver uma cousa: outro dia fui ao teatro. Quer saber o que me aconteceu? Não pude ficar lá... Era tal a imoralidade que...
— Que peça era, doutor?—indagou Mme. Barbosa.
— Não sei bem... Era Iaiá me deixe.
— Ainda não vi, disse candidamente Irene.
— Pois não vá, menina! fez com indignação o doutor Florentino. Não se esqueça do que Marcos diz: "Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe, isto é, de Jesus."
Florentino gostava dos Evangelhos e os citava a cada passo, com ou sem propósito.
Alguns hóspedes levantaram-se, muitos já se tinham retirado. A sala esvaziava-se e não tardou que o jovem Benevente se erguesse também e saísse. Antes passeou pela sala o seu olhar de pequeno símio, cheio de pequeninas espertezas, rematou sentenciosamente:
— Todos os povos fortes, como os homens, são morais, isto é, são castos, doutor Florentino. Concordo com o senhor.
Conforme tinham prometido, no dia seguinte, vieram as malas dos ingleses; mas não apareceram nesse