marítimos que isso não era próprio, tanto mais que ele não indicava o lagar dos burros.
Era difícil essa questão da colocação dos burros. Os homens de bordo queriam que fossem para o interior do navio; mas, objetava o doutor:
— Morrem asfixiados, tanto mais que são burros e mesmo por isso.
De comum acordo, resolveram telegrafar a Silly para resolver a curiosa contenda. Não tardou viesse a resposta, que foi clara e precisa: “Burros sempre em cima. Silly”.
Opinião como esta, tão sábia e tão verdadeira, tão cheia de filosofia e sagacidade da vida, aliviou todos os corações e abraços fraternais foram trocados entre conhecidos e inimigos, entre amigos e desconhecidos.
A sentença era de Salomão e houve mesmo quem quisesse aproveitar o apotegma para construir uma nova ordem social.
Restava a pequena dificuldade de fazer entrar o carro para o camarote do doutor Barrado. O convés foi aberto convenientemente, teve a sala de jantar mesas arrancadas e o bendengó ficou no centro dela, em exposição, feio e brutal, estúpido e inútil, como um monstro de museu.
O paquete moveu-se lentamente em demanda da barra. Antes fez uma doce curva, longa, muito suave, lentamente, como se, ao despedir-se, cumprimentasse reverente a beleza da Guanabara. As gaivotas voavam tranquilas, cansavam-se, pousavam na água — não precisavam de terra...
A cidade sumia-se vagarosamente e o carro foi atraindo a atenção de bordo.
— O que vem a ser isto?
Diante da almanjarra, muitos viajantes murmuravam protestos contra a presença daquele estafermo ali; outras pessoas diziam que se destinava a encarcerar um bandoleiro da Paraíba; outras que era um salva-vidas; mas, quando alguém disse que aquilo ia acompanhando um recomendado de Sofonias, a admiração foi geral e imprecisa.
Um oficial disse: