retranca, besuntado de tinta, mangas arregaçadas, tirava as últimas provas que os revisores esperavam.
Subitamente um bufo, como da expansão de uma válcula, subiu das oficinas, e foi depois um chiado e logo um silvo de jato, e, lentamente, com rumor de ferragens, como à partida de um comboio, as máquinas moveram-se, abalando o soalho em trepidações contínuas.
O Malheiros, dobrando-se, tomou entre as mãos enlaçadas um dos joelhos e suspirou:
"Não podia ouvir aquilo sem saudade: lembrava-se da sua viagem e pensava no Norte. Parecia-lhe que se achava a bordo, no convés, estirado num banco, ao clarão da lua, ouvindo as fontes pulsações da máquina que impelia o navio pelo mar luminoso." E, sonhando, deixava-se ficar muito quieto, olhos semicerrados, viajando imaginariamente para o seu torrão longínquo: praias longas, ondulando em dunas alvas, praias que o mar bravio lambe e assoalha de espumas, donde os jangadeiros, cantando, arrastam as jangadas que, de velas pandas, aos galões, partem, montando a vaga, perdendo-se nos horizontes azuis.
O Bruno, esse detestava a oficina: o "antro do Dragão". O prelo era: o Monstro devorador do gênio; e, sempre que ouvia a crepitação das correias nas polias ou o rolar dos cilindros das marinônis, murmurava, com ódio e nojo: "Lá está a besta mastigando!"