dos órfãos. O apóstolo interrompeu-o:
— Dize-nos alguma coisa que nos aproveite. Estamos aqui reunidos, ansiosos pelas palavras edificantes dos que gozam a graça de sentir a presença de Deus. Ilumina-nos.
Mas o homem continuou no mesmo tom plangente, detendo-se em pausas aflitas, a lamentar o sangue derramado, a miséria, os incêndios, as violações, até que estatelou inerte, numa sonolência mole, acordando, de repente, espantado, como estranhando achar-se entre tanta gente. Esfregou os olhos e levantou-se cansado, tornando ao seu lugar, no fundo da sala.
Sem que o chamassem, um mulato abaçanado, alto, de músculos hercúleos, ergueu-se, com um olhar de inspirado, oferecendo-se. Aceito, encaminhou-se para a mesa, impôs as mãos imensas e, d'olhos fechados, tateando, respirava com força, aos bufos, como um potro exausto. Abria, de repente, os olhos, bambaleava-se, batia pancadas secas com o pé, espalmava as mãos na mesa, com os dedos muito abertos.
A mocinha, que o não deixava com os olhos, empinou-se nervosa, suspirou e abateu na cadeira derreando a cabeça sobre o respaldar.
— Que a paz do Senhor seja convosco!... - disse gravemente o colosso com uma voz cheia que rolou tonitruosamente, seguindo-se-lhe o "Amém" de todos os presentes. E, à maneira dos profetas bíblicos que, no tempo da subversão moral do povo eleito, andavam de cidade em cidade anunciando