E ia deixando a medalha quando ela suspirou resignada:
— Leve. Os senhores não têm pena da gente.
O homem retirou-se e ela, sentindo fortíssimas agulhadas nas pernas, encostou-se ao tabique e ficou a olhar a parede fronteira cheia de relógios - uns parados, outros trabalhando, quadros, vasos artísticos em peanhas, um oratório de jacarandá, com um fundo azul de céu.
Eram os reféns da miséria que ali se juntavam, eram as alegrias do pobre que ficavam cativas pelo pão e pelo remédio, e ela pensava em outros infelizes, quantos! sofrendo mais do que ela, por esse mundo vasto e descaridoso.
Sentindo que empurravam a porta do cubículo voltou-se assustada e viu um velhinho engelhado, com um embrulho debaixo do braço. O intruso atrapalhou-se, murmurou uma desculpa e passou adiante. O homem apareceu com um livro para que ela assinasse: tomou da pena e, tremulamente, deixou o nome, a rua e o número da sua casa. Esteve ainda algum tempo à espera até que ele reapareceu com a cautela e o dinheiro.
Felícia esperava à porta, a olhar os carros estacionados junto á calçada.
— Então, minh'ama?
A velha murmurou caminhando:
— Duzentos mil-réis, Felícia, por uma medalha que custou ao velho uma fortuna. Eu sei: ele viu-me assim pobre... - E suspirando: E eu que