se. Pouco depois Dona Júlia bateu no vidro, chamando-o.
— Já vou. - Enfiou apressadamente as calças e, em mangas de camisa, arrastando chinelas, saiu do quarto, dizendo logo, com ódio:
— Veio falar de mim, essa besta...
— Não, não falou.
— Ora! não falou... Eu ouvi tudo, mamãe.
— Ficou aborrecido porque mandaste Mamede.
— Sim... Queria que eu fosse para pregar-me um dos tais sermões. A senhora fez bem em não aceitar o dinheiro. Que o guarde, não precisamos de esmolas. Pensava, sem dúvida, que íamos morrer à mingua. A mim é que ele não engana. - E foi caminhando para a sala de jantar.
O dia estava enevoado e triste; o ar frio picava. Paulo, a olhar o quintalejo, esfregava os braços voluptuosamente e, quando Felícia apareceu com o café, sentou-se trincando o pão com apetite. Cantavam na vizinhança e a voz, fresca e aguda, vibrava em trilos alegres.
— Onde estão os jornais?
— Em cima da mesa, - disse Felícia do corredor.
Estavam debaixo de umas velhas camisas que Dona Júlia remendava. Sentou-se na cadeira de balanço e, de pernas cruzadas, pôs-se a ler as folhas. As camaxirras chilreavam no jardim vizinho e o sol, rompendo as nuvens escuras, brilhou um instante, mas foi esmaecendo e, de novo, o dia