— Não. Tudo quanto o senhor quiser, menos isso.
— Por quê?
— Porque não.
— Gostas mais de Mamede?
Ela conservou-se calada, retorcendo a renda do casaco.
— Fala.
— Não é por isso.
— Então por que é?
Ela deu d'ombros.
— Fala.
— Não sou mulher para o senhor.
— Por quê?
— Ora... por quê! O senhor bem sabe.
E, de olhos baixos, com a voz arrulhante:
— A gente dá um passo desses, depois arrepende-se e quem sofre é a mulher. Olhe, uma companheira minha, por nome Belmira, vivia com um moço empregado na Estrada de Ferro. Ele não lhe dava luxo porque não podia, mas nada lhe faltava, verdade seja dita. Um dia, por uma coisa à-toa, brigaram e Belmira, que já andava de namoro com um mocinho como o senhor, deu um pontapé no seu homem e foi para a companhia do outro. Viveram bem durante um ano, mas o moço formou-se e foi para a terra dele prometendo voltar e a coitada ficou para aí com uma filhinha, sem um pão para comer. Não...
— E pensas que eu sou capaz de fazer o mesmo contigo?
— Ora! Eu sei o que são entusiasmos... - e esticou o braço para a mesa: que é que tem nesse embrulho?