miúdos da vida doméstica que lhe relatara Violante - as brigas, as ameaças e, finalmente, a fuga naquela noite agreste.
Mal encetou a costeleta que pedira, rejeitou a sobremesa e foi mais por vergonha do criado, que se serviu de um pouco de queijo. Pagou e saiu, atordoado, como perseguido pelo clamor de uma vaia. Canalhas! rosnou, descendo a escada.
A chuva jorrava torrencial e com muito vento. Ficou no botequim do pavimento térreo, abancou a uma mesa, pediu café e cognac, e quedou acabrunhado, os olhos ao longe, a pensar, com ódio, nos rapazes, desejando um desforço, uma vingança ruidosa. Canalhas!
Lançou os olhos ao relógio - eram cinco e meia, e estava escuro como se fosse noite. Que fazer com aquele aguaceiro? Revoltou-se contra o tempo; parecia um castigo e, como para justificar-se perante Deus, pôs-se a murmurar, passeando pela mesa o seu cálice de cognac:
"Se fosse por vício... Arranjasse eu um emprego... Mas que hei de fazer?" Calou-se, mas intimamente continuou a alegar razões: "Achasse eu um bom lugar... Como manter a casa? A culpa não é minha, bem que tenho procurado - negam-me sempre: que não há vagas..." E, convencido daquele sonho, como se efetivamente houvesse andado a implorar em vão, indignou-se contra os políticos, uns medíocres, que só queriam imbecis que os não suplantassem. "Pulhas!"