do povo, "o nosso sangue", deixando as ruas naquele lamentável estado. Era uma vergonha!
E toda aquela gente, que o temporal prendia, vitimas do mesmo suplício, buscando um derivativo para a cólera, rompeu em acrimoniosas censuras contra o governo, lamentando que tão linda cidade fosse assim esquecida, tornando-se um esterquilínio, um foco de moléstias. O velho ousou uma tímida referência ao tempo da monarquia:
"Era outra coisa. Havia mais cuidado, isso havia. Mais cuidado e mais respeito."
— Ora qual! Vem agora o senhor com a monarquia. No tempo da monarquia era pior. Eu também de lá venho! - berrou um sujeito magro, de pêra, levantando a gola do casaco. - A imundície data de velho tempo e há de acompanhar o país até a consumação dos séculos. É uma praga! Qual monarquia, qual história!
O velho investiu, nervoso, cruzando os braços sobre o guarda-chuva molhado:
— Era pior, era pior, diz o senhor; mas quanto custava um quilo carne? um cruzado!
— À pataca comprei eu muita, e da boa! - emendou outro
— Sim, senhor: à pataca, - confirmou o velho. - E hoje?
— Mas nós falamos de carne ou da imundície da cidade, dos meus esgotos?
— De tudo. É tudo uma patifaria! - rouquejou o velho. Não temos homens...