e mandou tocar para o largo do Rocio.
Logo ao entrar na batota soube, pelo porteiro, que lhe abriu a grade, que o jogo ainda não havia começado, por falta de pontos. Efetivamente, ao chegar ao fundo do segundo andar, já com todos os bicos de gás fulgurando, encontrou o Messias e os seus ajudantes, reunidos na sala do bilhar, onde reluzia a buvette de mármore, ouvindo as invectivas do Aurélio Mendes. Trocou ligeiros apertos de mão e sentou-se a um canto, discretamente, para não interromper a facúndia do "sinfonista verbal".
Aurélio, muito apiançado da asma, estava em um dos seus dias e. apesar da dispnéia, que o forçava a escancarar a boca de instante a instante, numa necessidade de ar, vociferava contra as "múmias", essa legião decrépita de lorpas, sem imaginação, sem estilo, que empanturrava o mercado de sandices, concorrendo criminosamente para a imbecilização do indígena. Citava autores e obras, recitava trechos, pedindo que lhe mostrassem, naquelas verbiagens insulsas, um período, uma frase, um só vocábulo que revelasse emoção, estesia. Era tudo palhada, tudo palhada! afirmou com desprezo, engrolando um grosso pigarro. Messias, muito míope, d'olhos apertados, em dois talhos, para manter a fama de espirituoso de que gozava, atirou-lhe uma piada:
— Deixa lá, Aurélio, há de chegar o teu dia.