Era uma revoltada. Tinha, para impor-se, a mocidade e a beleza - que importava o resto? A sociedade só despreza a miséria - as desonras que vexam são a fome, a nudez e as moléstias; o dinheiro tem sempre o seu prestigio, ninguém lhe pede a origem... e ela nadava em ouro.
Resolveu visitá-la na manhã seguinte para conhecer todos os pormenores daquele romance. E gozava, imaginando a vida solta da irmã, sempre em festas, deslumbrando com a sua formosura, disputada pelos argentários, amante de influências, podendo até protegê-lo, impô-lo à fortuna.
Sentia uma ponta de orgulho comparando-a às outras mulheres fanadas que a remiravam com despeitada inveja. "Vai longe!" murmurou num bocejo, estrincando os dedos.
Lembrou-se, porém, do dinheiro que guardara na gaveta. Saltou da cama, tomou-o e, espalhando-a na mesa, com volúpia de avaro, pôs-se a contá-lo separando as notas pelas respectivas valores. E imaginava compras: um farto fornecimento para a despensa, roupa, livros, o resgate das jóias.
A vida pareceu-lhe de facilidade suave. "Agora sim, a questão era ter um pequeno capital para começar..." E pensou em Ritinha.
A mulata havia de ceder porque, afinal, a vida de expedientes de Mamede não lhe garantia a tranqüilidade.