apertar a botão da campainha. Uma criada loura, de avental, apareceu à varanda, debruçou-se olhando por entre a folhagem da ipoméia que formava uma verde e florida empanada. Vendo-o, desceu ligeiramente e os seus passos vinham crepitando no saibro lucilante. Ele lembrou-se da recomendação da irmã e perguntou:
— Mademoiselle Diana?
A criada mirou-o dos pés à cabeça, e murmurou em tom de receio:
— Está; mas ainda não desceu. Pode dar-me o seu nome?
— Paulo, ela sabe.
Imediatamente a criada abriu o portão e, sorrindo, afastou-se dando-lhe passagem. Ele seguiu-a à varanda, entrou numa saleta luxuosa, que um alto tapete forrava. Pesados reposteiros coavam a luz filtrando suave claridade confidencial.
Duas cegonhas de bronze flanqueavam a otomana de damasco amarelo, vivamente ensangüentado a flores de púrpura. Pelas paredes, floridas a ouro, sobre aveludado fundo carmesim, acumulavam-se retratos, grandes quadros pendiam mostrando paisagens tristes - campos de trigo esfumados pela crepúsculo e gados que recolhiam e uma gravura idílica em que havia uma redouça, entre flores, unindo um jovem casal amoroso no mesmo balouço. O silêncio era absoluto como se tudo dormisse naquela casa. A criada reapareceu em passos surdos, como uma sombra.