— Nem parecia que morava gente aqui. A não ser o falatório da preta no quintal, era um silêncio completo. Boa criatura.
E referiu-se à família que anteriormente habitara a casa - um casal e dois filhos. Eram brigas desde que amanhecia e as crianças insuportáveis, muito atrevidas, sempre esmolambadas, sujas, trepadas no muro, atirando pedras, dizendo obscenidades. Deixaram a casa como um chiqueiro.
Mamede interveio. Falou dos bons tempos da velha, da sua beleza, da sua vida feliz em companhia do marido e, pouco a pouco, estabelecendo-se intimidade, conversaram; o próprio Paulo chegou-se ao grupo e falaram de tudo - da carestia da vida, dos crimes que os jornais referiam, das moléstias que devastavam. A vizinha, sem reservas, disse à Ritinha, não tão baixo que não pudesse ser ouvida dos homens:
— Eu, por mim, prefiro ficar sem um pedaço de pão para o dia seguinte, mas gente que eu não conheça não me dorme em casa. Ninguém sabe se o homem que se recebe é uma pessoa de bem ou um assassino. Deus me livre! Eu não! Os malfeitores não trazem sinal. Eu vejo o que se passa por aí, nos pontos mais freqüentados. Mesmo de dia não há segurança, quanto mais de noite e numa rua deserta como esta. Entram, fazem o que muito bem querem e saem muito frescos.
Ritinha concordou.
Ao cair da tarde Paulo chamou Mamede,