Depois, um dia, um parente chegou ao castelo, trazendo de presente ao menino um anão disforme, pouco mais alto que uma seta, com uma cabeça enorme de olhos maus, e um longa barbicha rala, que lhe fazia como o queixo de um bode. O menino teve então a paixão do seu anão. E nunca mais reparou em Cristóvão.
A dor de Cristóvão foi imensa. E o castelo tornou-se-lhe subitamente tão frio e deserto, como um cerro que as nortadas bate. Todo o dia seus olhos espreitavam os terraços onde o menino passeava, a porta por onde saía, a liça onde ele vinha jogar a seta. E quando ele aparecia, Cristóvão escondia-se por entre os ângulos das torres – não se querendo mostrar por sentir que não era desejado, ou pelo receio de ver que não era chamado com o riso alegre de outrora. E na sua simplicidade pensava: “Que lhe fiz eu? Por que me não quer?” Todas as noites sonhava com ele. Era sempre a mesma criança, com os cabelos louros sobre uma camisa muito branca, que caminhava sobre o seu corpo, mas, em lugar de vir espreitar a sua face, só vinha para lhe enterrar a ponta da sua seta, no sítio onde sentia bater o coração, com um jeito que era seco e cruel.
Sentado à porta da torre, pensando naquela ingratidão, soltava grandes suspiros: e o arquivista debruçava a cabeça calva pelo postigo,