e, como outrora na sua aldeia, era ele que acarretava os fardos, rachava a lenha, compunha os telhados, lavrava os chãos mais duros. Mesmo por vezes ia pastorear os rebanhos, ou guardava os moinhos. À noite ficava entre aquela pobre gente, sem pena do bom calor das cozinhas do castelo, do pão fresco, e da sua larga porção de carne salgada. Reunidos à lareira, num dos casebres, eles passavam o fim da tarde já escuro, olhando o lume, onde as raparigas assavam castanhas na cinza. E Cristóvão, no meio deles, escutava o seu falar lento e grave. Os mais velhos contavam histórias do velho conde, homem cruel, que nos campos impelia o seu corcel contra os lavradores, ou talava os vergéis. Diz-se que tinha pacto com o Demônio:- e muitos o tinham visto caçar de noite, à luz de tochas, guiado por um caçador todo escarlate , que tocava uma trompa de onde saíam chispas de lume. Outros tempos mais doces tinham vindo com o outro conde, o que morrera nas guerras, e com as damas, tão clementes, que as forcas patibulares estavam apodrecendo. Mas quanto lhes pesava ainda aquele alto castelo, de brasões e de flâmulas! Que dura era ainda a vida, sempre sujeita, toda de duro trabalho! E cada um contava a sua miséria, o labutar incessante, o pão escasso, os filhos rotos pelos grandes frios, a fome por vezes vindo com os seus dentes de